Hoje decidi trazer-vos o que considero ser uma das ideias mais geniais em economia: a vantagem comparativa, referida pela primeira vez por David Ricardo em 1817.
A forma mais fácil de vos apresentar esta ideia é por indução, i.e., a partir de um exemplo e depois generalizando.
Imaginem um casal, o Pedro e a Catarina, que repartem as tarefas do lar e querem terminá-las o mais depressa possível para poderem ir às compras (ou para namorar …). Para sermos mais concretos, as tarefas em causa são aspirar um quarto (AQ) e lavar a loiça (LL). Acontece, contudo, que a Catarina é melhor do que o Pedro a fazer qualquer uma das duas tarefas, i.e. consegue aspirar um quarto em menos tempo e consegue lavar a loiça também em menos tempo. O Pedro precisa de 20 minutos para aspirar um quarto (a Catarina fá-lo em apenas 10 minutos) e leva 40 minutos a lavar a loiça (enquanto a Catarina o consegue fazer em 30 minutos).
Será que o Pedro pode convencer a Catarina a ser ela a executar as duas tarefas porque, afinal de contas, ela é melhor que ele (usa menos recursos que, neste caso, é apenas o tempo despendido)? Se assim for, argumenta ele, podemos sair de casa daqui a 40 minutos (10+30). ‘Faz tu as duas coisas enquanto eu respondo ao meu email …’
Neste exemplo procura-se a solução mais eficiente, i.e. a melhor forma de organização que garante que as duas tarefas são executadas usando o mínimo possível de recursos (i.e. no mais curto espaço possível). Obviamente que ser a Catarina a única a trabalhar é tudo menos socialmente justo, mas foquemo-nos apenas na eficiência.
A maior parte das pessoas consegue, intuitivamente, perceber que uma pessoa deve especializar-se na tarefa onde esta é melhor, mas o que fazer quando a pessoa é mais produtiva em todas as tarefas, i.e. o que fazer quando a Catarina tem uma vantagem absoluta sobre o Pedro na execução das duas tarefas?
E é aí que entra a ideia de vantagem comparativa, que diz que cada pessoa se deve especializar na tarefa onde o seu custo de oportunidade é mais baixo. O que é que isso quer dizer, neste exemplo?
Para lavar um lote de loiça (LL) o Pedro precisa de 40 minutos. Se em vez de estar a lavar a loiça ele usar esse tempo para aspirar um quarto (AQ) ele poderá aspirar 2 quartos, em alternativa, porque leva 20 minutos em cada um. Logo, ao lavar um lote de loiça ele abdica de aspirar dois quartos. I.e., o custo (de oportunidade) de lavar um lote de loiça são dois quartos aspirados; é isso que o casal perde se for ele a lavar a loiça.
E se for a Catarina a lavar a loiça? A Catarina precisa de 30 minutos para lavar um lote de loiça, e com esse tempo poderia ter aspirado 3 quartos (porque leva apenas 10 minutos a aspirar cada um). Logo, ao lavar um lote de loiça, abdica-se de 3 quartos aspirados. Concluimos que o custo para o casal é maior no caso de ter a Catarina a especializar-se na lavagem da loiça.
O princípio da vantagem comparativa diz então, muito simplesmente, que deve ser o Pedro a lavar a loiça porque nesse caso apenas se perdem, em alternativa, 2 quartos aspirados em vez dos 3 quartos aspirados no caso de ser a Catarina a especializar-se nessa tarefa.
Ora vejamos o que acontece se o Pedro lavar a loiça e a Catarina aspirar o quarto. Nesse caso, saem de casa após 40 minutos, o tempo que o Pedro leva para lavar a loiça, mas durante esse tempo a Catarina terá aspirado a casa toda (os 4 quartos)!
Experimentem com outras afectações de tarefas e constatarão que esta alocação, que foi determinada usando o princípio da vantagem comparativa, é a que resulta no maior número de tarefas completadas no espaço de tempo mais curto (isto sim é eficiência!).
Este exemplo poderá parecer infantil, mas não o é. Podemos usá-lo para fundamentar, por exemplo, por que é que Portugal e os Estados Unidos têm trocas comerciais entre si, mesmo nos bens e serviços onde os Estados Unidos são melhores que Portugal na produção dos mesmos.
Como quase sempre em economia, voltamos aos fundamentos: os recursos (neste exemplo do Pedro e da Catarina) são escassos e, por isso, regras como o princípio da vantagem comparativa permitem que façamos o melhor uso deles com proveito para todos, sem termos de cair em situações insustentáveis para qualquer uma das partes, como seria o caso de ser a Catarina a fazer tudo em casa. 🙂
Para os mais curiosos, deixo aqui um link da OCDE sobre a vantagem comparativa.
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