A economia como um mecanismo

No segundo de três programas radiofónicos da BBC, apresento-vos aqui mais meia hora, desta vez sobre A Economia como um mecanismo. A cena desenrola-se em Chicago e prossegue depois em terras de Sua Majestade.

Abordam-se vários temas em torno da visão mecanicista do funcionamento de uma economia. Entre outros tópicos interessantes, discute-se a incrível capacidade do mercado como uma instituição em a) estabelecer o valor de um recurso* e b) em coordenar a actividade económica, garantindo que as famílias e as empresas encontram em tempo útil os bens e serviços que procuram. Esta virtude é contrastada com as dificuldades que a antiga URSS tinha em planear centralmente a organização dos recursos e o fornecimento atempado às populações. Quem não se lembra de ver pela TV as prateleiras vazias e as filas intermináveis para comprar coisas como pão ou sabão?

É claro que não se fala apenas do que o mercado consegue fazer bem, mas também das limitações do mesmo – o laureado com o prémio Nobel Joseph Stiglitz refere, entre outras falhas de mercado, o desemprego, as crises financeiras, a inexistência de certos mercados, a existência de certos bens que o mercado não providencia, e as assimetrias de informação entre compradores e vendedores.

Neste contexto, a comunidade científica continua a fazer avanços para encontrar as tais regularidades empíricas de que falei no meu último post. Apesar dos muitos e variados esforços dos seguidores de Milton Friedman e de John Maynard Keynes em descobrir como funciona a máquina (fala-se inclusivamente de um modelo de canalização que Phillips, um engenheiro, construiu), a macroeconomia é hoje cada vez mais como a astronomia e não como a física.

Nas palavras de Isaac Newton que curiosamente (ou talvez não) perdeu um significativo montante numa especulação do seu tempo: “I can calculate the motions of the heavenly bodies, but not the madness of people.”

A economia é um sistema complexo onde é impossível ignorar o elemento humano que não é imune a efeitos de manada (herd effects) e outros fenómenos psicológicos. Esse e outros temas serão objecto de análise no programa da próxima semana. Não percam! 🙂

* Vale a pena elaborar um pouco sobre o que quer dizer que o mercado estabelece o valor de um recurso. Para tal, é necessário saber a que valor corresponde o preço de equilíbrio de um mercado. Para isso vou usar o exemplo do Paradoxo dos Diamantes e da Água que aparece nos livros de texto em economia. O preço de um copo de água é muito muito mais baixo que o preço de um diamante. Mas isso não quer dizer que uma pessoa dê mais valor a um diamante do que a um copo de água. Depende, obviamente, das circunstâncias em que estamos. Se, nos nossos primeiros segundos de vida, nos tivessem dado a escolher entre um copo de água e um diamante, ninguém escolheria o diamante. Assim, a que valor corresponde o preço de equilíbrio que é maior no caso de um diamante do que é no caso de um copo de água? O preço de equilíbrio corresponde apenas ao máximo que está disposto a pagar o chamado consumidor marginal, i.e. aquele que desistiria de querer o bem se o preço fosse um nadinha mais elevado. O preço de equilíbrio nada tem a ver com o valor total que a sociedade deriva do consumo ou utilização desse mesmo bem.   

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Sobre Pedro G. Rodrigues

Investigador integrado no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) e Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Doutorado em economia pela Universidade Nova de Lisboa. Email: pedro.g.rodrigues@campus.ul.pt
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