Os economistas são muitas vezes acusados (injustamente) de apenas ligarem aos aspectos financeiros de uma questão. Contudo, quem o faz está a esquecer-se dos aspectos económicos. Confuso/a? Eu explico. Economia tem a ver com a utilização dos recursos que temos, com vista à maior satisfação possível de todos na sociedade. Assim, é fácil compreender que a economia preocupa-se com o bem-estar e a felicidade de todos.
No que toca à comparação do nível de vida em países diferentes, os economistas privilegiam um indicador: o PIB (produto interno bruto) per capita, i.e., o rendimento médio nesse país, que é calculado como a soma do rendimento total a dividir pela população nesse país. Para além dos problemas que todos conhecemos ao utilizar apenas uma média para conhecer a realidade (pensem no exemplo em que um come dois frangos e outro não come nenhum – em média comeram um frango cada um), muitos criticam a utilização deste indicador para caracterizar (comparativamente) o nível de vida num país.
Será mesmo assim? Até que ponto é que um indicador mais sofisticado dá resultados diferentes, ou será que o PIB per capita representa adequadamente o nível de vida? Esta é a pergunta a que tentarei dar uma resposta neste post.
Dois economistas da Universidade de Stanford (Charles Jones e Peter Klenow) apresentam aqui uma nova medida do nível de vida num país que leva expressamente em conta as diferenças em termos de consumo, lazer, desigualdade e mortalidade. Os EUA, por exemplo, apresentam um PIB per capita mais elevado que a França; contudo, em média, os Norte-Americanos também trabalham mais horas por ano, vivem numa sociedade mais desigual, e morrem mais cedo. Dados da OECD no âmbito da iniciativa Better Life (disponíveis aqui) mostram bem a heterogeneidade que existe entre países desenvolvidos nestas e noutras variáveis que são determinantes para a qualidade de vida.
A figura seguinte (tirada da revista The Economist) apresenta os resultados para o ano 2000 a que os dois economistas investigadores chegaram. Em termos da ordenação dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) em termos da medida de bem estar alternativa ao PIB per capita, é na Itália que em 2000 se vivia melhor, seguida da Espanha, Grécia, Irlanda e em último lugar Portugal. É curioso este ranking, dado que em termos de PIB per capita, a ordem seria: Irlanda, Itália, Espanha, Grécia e Portugal. Os números para Grécia e Portugal (que não aparecem na figura) são 68.4 (54.2) e 46 (49.1), respectivamente.
É curioso, também, que entre 1980 e 2000, na UE apenas o Chipre registou um crescimento desta medida alternativa de bem estar superior à de Portugal. Por isso, o desempenho económico de Portugal, nestas duas décadas, é algo a valorizar positivamente. Afinal a Irlanda não é tão apelativa quanto nos dizem.
Outro elemento que os autores referem é que existe uma correlação de 95% entre a medida alternativa de bem estar (mais sofisticada por levar em conta não só o consumo, mas o lazer, a desigualdade, e a mortalidade) e o PIB per capita.
Em resumo, parece que, afinal, o PIB per capita até representa muito razoavelmente o nível de vida num país. Quanto maior o rendimento médio, maior é a possibilidade de adquirir os bens e serviços que nos fazem mais felizes (saúde, lazer, educação, etc.) e também maior será a possibilidade de vir a trabalhar menos horas.
Da próxima vez que nos disserem que os economistas são uns Tios Patinhas que só se interessam por dinheiro, vale a pena relembrar o que foi dito neste post. 🙂
Faz todo o sentido que a riqueza produzida por um país correlacione bem com a qualidade de vida. E o mesmo se deve passar com os salários médios. Claro que, como diz o ditado, o dinheiro não traz felicidade mas a falta do mesmo traz infelicidade. Além disso, como bem diz, o dinheiro permite aceder a serviços que permitem manter níveis de saúde que contribuem para a felicidade. Como eu costumo dizer, antes rico e saudável que pobre e doente.