Krugman, o Kru

A notícia do dia parece ser a entrevista que o economista Paul Krugman deu ao jornal Le Monde onde se infere que Portugal deveria baixar salários em mais 20% ao longo de 5 anos para ganhar competitividade face aos alemães.

Isso é seguramente uma forma de fechar o hiato (ou gap), mas existe outra via, que ele também refere: a da inflação, dado que já não existe a alternativa de uma desvalorização cambial competitiva (como se fazia com o escudo). Não me passa pela cabeça que Krugman esteja a sugerir directamente a redução nominal dos salários, dado que isso reduziria ainda mais a procura agregada e seria desastroso em cima de uma política orçamental restritiva (entenda-se austeridade). O que Krugman não diz é que, mesmo em Portugal, as desvalorizações consecutivas do escudo aliviavam o problema da competitividade apenas no curto prazo (por uns meses) e traduziram-se SEMPRE num problema de inflação difícil de erradicar que necessitou políticas de convergência nominal nos anos ’90.

Não há soluções mágicas como as que Krugman sugere.

O que Krugman poderia e, quanto a mim, deveria ter dito é que em Portugal, em média, ganhamos 20% a mais do que seria justificável com a nossa produtividade actual. Aí concluir-se-ia que o que temos de fazer com URGÊNCIA é tornar-mo-nos mais produtivos.

A este respeito vale a pena reler o que já escrevi num post neste mesmo blog.

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Sobre Pedro G. Rodrigues

Investigador integrado no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) e Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Doutorado em economia pela Universidade Nova de Lisboa. Email: pedro.g.rodrigues@campus.ul.pt
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2 respostas a Krugman, o Kru

  1. Tornar a nossa produtividade com mais valor acrescentado é uma tarefa que não depende exclusivamente dos trabalhadores, dos empresarios ou dos governos. A nossa produção já é competitiva se tivermos em consideração o rácio de contribuintes liquidos para a riqueza nacional.
    A questão continua em aberto e ainda é uma incógnita, sem a participação dos sindicatos das associações empresariais e do parlamento com governo e oposição empenhados numa estratégia comum se salvação nacional, para que assim pudéssemos contornar as adversidades vindas do exterior, o país e os portugueses não vão ter um futuro demasiado penoso.

    Os interesses partidários, a falaciosa e arcaica luta de classes falam mais alto quando os praticantes de terra queimada encontram terrenos férteis a incêndios, pois só assim podem aspirar chegar ao poder.

    • Somos todos responsáveis por melhorar o país que temos. Os trabalhadores não podem fazer tudo para aumentar significativamente a sua produtividade. Precisam de mais e melhores máquinas, mais e melhores gestores, e melhores governantes a todos os níveis.

      A boa utilização dos recursos – i.e. com racionalidade – é o que nos deve unir num tempo como o presente.

      Claro que concordo consigo que há que fazer uma concertação social a sério (a que vimos recentemente não o é) em que todos se comprometem em trabalhar para o bem comum e PARTILHAR de forma justa o bolo que entretanto tiver sido feito.

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