Facebook … “livro-me deste cara”

Já muito foi escrito sobre a estreia do Facebook (FB) em bolsa. Contudo, é incrível como muitos investidores voltaram a cometer o mesmo erro que levou ao rebentamento da bolha do Nasdaq no início do século passado, depois de terem comprado acções de empresas tecnológicas a um preço demasiado elevado.

A figura seguinte mostra o desempenho do FB em bolsa desde a sua estreia a 18 de Maio de 2012.

Para que você, o leitor, não caia numa dessas sugiro que analisemos uma métrica financeira muito simples para saber se um activo está sobrevalorizado ou não. Trata-se do rácio forward P/E que mais não é do que o rácio entre o preço por acção e os resultados que se espera que a empresa alcance no futuro, também medidos por acção. Quanto maior for este rácio, mais perigosa é a sua compra, mantendo tudo o resto igual. Porquê?

Vamos transformar a história das acções do FB num exemplo mais simples, com menos zeros … devo confessar que cada vez que ouço falar em biliões e triliões de valorização do FB dá-me vontade de ir logo comprar umas acções, mas depois lembro-me da métrica financeira e volto a pensar racionalmente. Nos investimentos, devemos sempre ouvir a razão e não a emoção.

A métrica do forward P/E (price to equity) ratio está disponível em vários sites. Em Finviz, por exemplo, descobrimos que para o Facebook está em 57.53 … mas vale a pena pensar no seguinte exemplo para simplificar as coisas e entender melhor o significado deste número.

Suponha que lhe é dada a oportunidade de comprar uma loja no centro da cidade que será arrendada a €1000 por mês, já descontados da inflação e dos impostos a pagar. O valor da renda está indexada à inflação e haverá sempre quem queira arrendar o espaço por este montante. Tem portanto €1000 garantidos enquanto for dono da loja. Que bom! Usando uma taxa de juro real (i.e. descontada dos efeitos da inflação) de 3%, isso quer dizer que ter a loja lhe dá um rendimento real (descontado da inflação – é isto que importa para o seu poder de compra) de €12164.12 em cada ano. [Os meus alunos de economia deverão chegar ao mesmo valor. É um bom exercício. :)] Claro que ninguém o obriga a ser dono da loja arrendada para o resto da vida; pode sempre tentar vendê-la a alguém passado um ano, como pode fazer com as acções do Facebook.

A pergunta fundamental é: “Quanto é que estaria disposto a dar para comprar uma loja que, arrendada, lhe dá um rendimento real de €12164.12 ao ano?”. Vamos supor que o preço da loja é (admitindo que tem o mesmo forward P/E ratio do Facebook) 57.53 vezes este valor, i.e. quase €700 000 (o valor exacto é €699801.80).

Não acha este valor um pouco elevado?

Vale a pena pensar nisto.

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Sobre Pedro G. Rodrigues

Investigador integrado no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) e Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Doutorado em economia pela Universidade Nova de Lisboa. Email: pedro.g.rodrigues@campus.ul.pt
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Uma resposta a Facebook … “livro-me deste cara”

  1. Sónia diz:

    olá ~Gostei a forma como professor escreve o blog .
    Eu tinha uma pergunta a fazer acha que a India será uma superpotencia economica apesar de a uma boa parte da sua populaçao continuar a viver em condiçoes muito más? acha que futuramente os ocidentais vamos ter que emigrar para India acha que é um cenario possivel?
    obrigado
    Sónia

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