Ainda os “swaps”

Derivatives-dummies

Que ignorância quanto à função de um instrumento derivado (dos quais os swaps são um exemplo): a cobertura de risco não tem nada de exótico nem de ilegal – irresponsável é a alavancagem (i.e. abusar do instrumento financeiro para fins especulativos para que, se der certo, eu ganho, se der para o torto, perdem todos os contribuintes). Não vamos deitar a água do banho fora juntamente com o bebé!

E como em qualquer seguro, paga-se um prémio (a nossa anuidade) e depois estamos segurados. Se nada acontecer (e ainda bem!) não podemos dizer ai da nossa vida que paguei demais e poderia ter poupado não tendo pago o prémio. Claro que se eu usei o seguro para fins especulativos, basicamente sou um idiota irresponsável.

Trocando por miúdos, no caso de um swap da taxa de juro variável por um contrato de taxa de juro fixa, a ideia era acautelar a possibilidade de as taxas de juro aumentarem a partir de mínimos históricos. O problema foi que em vez de aumentarem, baixaram ainda mais. (É bem possível que os bancos com os seus gabinetes de research tivessem chegado à conclusão que as injecções brutais de liquidez por parte de quase todos os bancos centrais iriam fazer com que as taxas de juro continuassem a baixar, mas também não era óbvio porque ao primeiro sinal de que a inflação estivesse a acelerar iriam aumentar as taxas de juro.) E aí quem fez o swap teve de pagar a taxa fixa agora mais elevada que a taxa variável. Lição a tirar: é impossível saber quando um preço atingiu o seu ponto mais baixo – daí o adágio popular nos mercados financeiros: DON’T TRY TO CATCH A FALLING KNIFE (não tente apanhar uma faca que está a cair).

Como sempre, se alguém nos quer vender algo, desconfiem se esse alguém provavelmente souber mais do que nós sobre o que está a vender. Isto em economia tem um nome: informação assimétrica, porque compradores e vendedores não sabem o mesmo sobre o bem ou serviço que está a ser transaccionado. A informação não é simétrica dos dois lados – de quem compra e de quem vende.

O assunto é muito sério e aparece em muitos mercados da vida real (se na cadeira de economia que tiveram na universidade apenas estudaram o funcionamento dos mercados em condições de benchmark (em concorrência perfeita, em monopólio, oligopólio, etc.) e nunca ouviram falar de informação assimétrica, perderam uma grande aproximação à realidade.

Aproveitem o seguinte vídeo em que participa o Tim Harford, autor do livro “Undercover Economist”.

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Sobre Pedro G. Rodrigues

Investigador integrado no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) e Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Doutorado em economia pela Universidade Nova de Lisboa. Email: pedro.g.rodrigues@campus.ul.pt
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