Há um novo artigo no Project Syndicate (em inglês) onde Hans-Werner Sinn, o presidente do reputado instituto alemão Ifo, responde a George Soros sobre a inevitabilidade da Alemanha escolher entre a) aceitar os Eurobonds, e b) sair do euro.
A alternativa A é uma mutualização da dívida que levaria a problemas de risco moral – os países do sul poderiam continuar a endividar-se a taxas de juro baixas, colocando os riscos do lado da Alemanha. Foi basicamente isto que foi possível desde o arranque do euro e que levou à crise das dívidas soberanas. Não me parece uma solução duradoura para os problemas da Europa. Poderia aliviar no curto prazo, sim, mas correndo os riscos de agravar os problemas de origem.
A alternativa B é a Alemanha sair do euro, algo que desde 1 de Dezembro de 2011 (ver aqui) venho prevendo como a resolução lógica das tensões que são bem reais dentro do euro. Um assunto a que carinhosamente tenho apelidado de Ausgang. Na própria Alemanha, um novo partido emergente chamado “Alternativa para a Alemanha” já discute esta possibilidade (inevitabilidade?). Percebe-se como a Alemanha está dividida: por um lado beneficiou de um marco (euro, peço desculpa!) fraco que lhe permitiu relançar a economia através das exportações, mas por outro tem de ajudar financeiramente países como a Grécia, Portugal, a Irlanda, a Espanha, o Chipre, a Italia?, a Eslovénia?, (inserir aqui o seu candidato preferido a um próximo bail-out) …
O texto do Hans-Werner Sinn tem uma passagem curiosa: “The euro gave these countries access to cheap credit, which was used to finance wage increases that were not underpinned by productivity gains. This led to a price explosion and massive external deficits.” É caso para perguntar se essa narrativa (sim, aqui aplica-se na perfeição!) se aplica a Portugal. Sim, o euro trouxe-nos crédito abundante e mais barato (porque íamos à boleia da credibilidade da Europa e não de Portugal), mas será verdade que os salários reais aumentaram assim tanto? Bem sei que o nosso desempenho em termos de produtividade na década de 2000-2010 não foi brilhante, mas eu não senti (como funcionário público) esse gigantesco aumento de poder de compra através de um aumento de salário.
Claro que, na sequência lógica da passagem referida, a solução proposta pelo Hans-Werner Sinn para corrigir as tensões de competitividade dentro da Área Euro é que os países menos competitivos (os do sul) têm de baixar os seus preços e salários em cerca de 20%. Mas isto é 100% incompatível com taxas de desemprego jovem que excedem os 50% e que urge baixar.
Berlin, wir haben ein Problem! O Ministro das Finanças da Alemanha já disse que acha que os Alemães não precisam de aumentar o seu consumo, mesmo que isso seja a coisa mais responsável de fazer para a Europa dado que são eles que mais podem. E, claro, já sabemos que não aceitarão (e bem!) uma solução (que não o é!) que passe pelos preços subirem 20% na Alemanha.
Uma novela em curso … com muitos capítulos em carteira.