A sugestão de leitura desta semana é uma notícia do jornal Público e tem um título preocupante: “40% dos alunos do secundário não querem entrar no superior”.
Como é a primeira vez que acontece, os agentes políticos, os professores universitários e os investigadores das ciências sociais (como sociólogos e economistas, por exemplo) deviam discutir o porquê. Será apenas a crise que retira tanto poder de compra às famílias que as impede que os seus filhos frequentem o ensino superior? Ou será um fenómeno mais sociológico em que os jovens se iludem com as histórias de sucesso como as do futebolista Ronaldo ou dos empresários que nunca terminaram o ensino superior mas que conseguiram fundar empresas como o Facebook, a Microsoft ou a Dell? Será que os jovens acham que já não vale a pena tirar um curso superior porque o ‘prémio’ (o que se ganha a mais por ter mais anos de escolaridade formal) é pequeno e a probabilidade de estar desempregado no futuro é elevada? Se sim, estão enganados.
É verdade que uma das principais razões pelas quais uma pessoa vai para a universidade é profissionalizar-se para ter um emprego melhor que a de um mineiro (Alguma vez conheceu um mineiro que queria que os seus filhos seguissem os seus passos? Bem me parecia.). Mas a educação tem um valor social muito maior (o que economistas designam de ‘externalidades positivas’) relacionado com tudo o que permite a um cidadão melhorar a qualidade da sua vida em sociedade. Estou a pensar numa nutrição melhor, numa saúde melhor, numa literacia em economia e em finanças, na capacidade de apreciar a cultura do nosso país e de outros, na vontade de viajar, e até na tolerância entre os povos, um passo bem grande para a paz no mundo. Bem, pelo menos é nesse sentido …
É discutível se é na universidade que os jovens deviam apreender todos estes aspectos extra-curriculares à sua profissionalização – Eu entendo que sim! Mas se não for no ensino superior, onde? No ensino básico e secundário? Através dos meios de comunicação? Um papel para a RTP?
De qualquer forma, se não invertermos esta tendência muito em breve, temo que estaremos a sacrificar não apenas o potencial de crescimento da economia portuguesa nas próximas décadas e a sustentabilidade do Estado Social, mas estaremos também a condenar milhares de jovens portugueses a uma existência muito mais pobre.
Nota de declaração de conflito de interesses: Sou docente numa universidade pública.
Caro professor,
Essa realidade torna-se demais evidente. Estou acabar o meu Phd em Ciências Empresariais e vou começar um mestrado em matemática aplicadas as finanças e ouço, por parte de amigos, que quanto mais estudar menor a probabilidade de de entrar no mercado de trabalho ( sendo adicionada a idade de 31 anos). Verifico a realidade que o professor descreveu neste texto, no entanto, eu penso o contrário e estou a arriscar tirando este mestrado. Esta decisão deriva do facto de o mercado “pedir” pessoas formadas em matemática para a posição denominada de “quant”. Poderei não entrar na área das finanças mas vou arriscar tendo a noção que em Portugal esta profissão de quant é escassa.
Melhores Cumprimentos
Joaquim