Money, money …

Poupar é difícil, mas é cada vez mais importante. Não é preciso ser formado em economia ou em finanças para perceber que o futuro é incerto e não vamos poder depender tanto do Estado para garantir um bom nível de vida. De certa forma, como cidadãos, temos que nos informar sobre as alternativas que existem e ser mais responsáveis por nós e pela nossa família.

Poupar é difícil porque, para poupar, não podemos consumir tanto quanto gostaríamos no imediato, o que nos causa desconforto. Mas, por outro lado, como todos sabem, para além da segurança que um pé de meia nos dá, a poupança permite transformar €1 de consumo a que renunciamos hoje em vários euros de consumo no futuro. Poupar para a reforma é particularmente útil, dado que na velhice a nossa capacidade para gerar rendimento através do trabalho é cada vez menor, e as despesas com a saúde, os lares ou com algum imprevisto tendem a ser maiores.

Sempre que falo das virtudes da poupança (tanto para a economia de um indivíduo como para a economia de um país, aumentando o PIB potencial e criando emprego), ouço três tipos de reacções: a) ganho muito pouco e não posso poupar, b) as taxas de juro sobre os depósitos a prazo não compensam, ou c) os impostos sobre os rendimentos de capitais são cada vez mais altos que não vale a pena. Se é verdade que se paga uma taxa de 28% sobre as mais valias, também é verdade que temos a opção de englobar esse rendimento no IRS e assim pagar uma taxa efectiva de imposto muito mais baixa se tivermos um baixo rendimento. Depois, embora concorde que uma pessoa que aufira pouco mais que o salário mínimo tenha pouco espaço orçamental para poupar, não deve ficar desencorajada por dois motivos. Primeiro, deve pensar na sua poupança em termos de uma determinada percentagem e não em termos absolutos, e segundo, quanto mais elevada for a taxa de rendibilidade, mais interessante se torna a poupança. Contudo, não nos devemos deixar enganar – lembre-se que não há almoços grátis – pelo que normalmente a uma taxa de rendibilidade mais elevada está associada um risco maior. Quem não se lembra do Super Depósito do BPN que oferecia uma rendibilidade nominal bruta à volta dos 8%?

Por não quererem investir algum tempo a aprender sobre as outras alternativas, para a maior parte das pessoas, poupar é constituir ou reforçar um depósito a prazo, ou talvez comprar um Certificado de Aforro. Em futuros posts falaremos do sentido que faz comprar dívida pública portuguesa, face a alternativas como emprestar a empresas (obrigações) ou tornar-se sócio delas (acções).

Este post será sobre a compra e venda de moeda estrangeira (forex) numa plataforma electrónica como a Alpari PT.

forex

Antes de analisarmos esta classe de activos, vale a pena primeiro saber qual a taxa de rendibilidade em termos reais de um depósito a prazo a um ano. Segundo este link, em Portugal há depósitos a prazo com TANBs (taxas anuais nominais brutas, i.e. antes de impostos e sem descontar a inflação) que variam entre os 0,625% (!) e os 3,5%. Segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), os preços aumentaram 1,2% entre Junho de 2012 e Junho de 2013, pelo que é razoável admitir que no futuro mais imediato haverá uma perda de compra (inflação usando o indicador IHPC) deste valor. Isto quer dizer que neste momento há depósitos a prazo a um ano que oferecem um ganho real entre -0,75% e +1,32% ao ano (admitindo um imposto de 28% sobre as mais valias).

O depósito a prazo é um activo quase sem risco (especialmente se o montante depositado for inferior a €50 000), mas tem uma rendibilidade muito baixa. Assim, é difícil convencer as pessoas a poupar, para além de ser por razões de mera precaução. Essa, aliás, parece ser a razão por de trás do recente aumento da taxa de poupança dos portugueses, dado que as taxas de juro (ainda!) não começaram a subir.

Então, em que consiste o mercado electrónico do forex, em que se compra e se vende moeda estrangeira como euros, libras, dólares, iene, etc.?

Transaccionar moeda estrangeira é uma actividade desempenhada por bancos, sociedades financeiras, seguradoras, fundos de investimento e também por alguns cidadãos. Este é um mercado gigantesco que transacciona diariamente contratos no valor de 4 biliões de dólares ($4 000 000 000 000) que dificilmente é tão manipulado quanto outros com menor liquidez, como é o caso de algumas acções com baixa capitalização bolsista. Embora a esmagadora maioria compra e vende moeda estrangeira simplesmente como a contrapartida de uma transacção de bens ou serviços, como uma viagem ou uma importação, também há quem use esta classe de activos ou para cobrir riscos, ou para fins especulativos. Nesse caso, aposta-se ou na subida ou na descida de uma determinada cotação.

Nos mercados financeiros há duas abordagens, que eu diria que são complementares, para determinar se o preço de um activo vai subir ou descer. São elas, a abordagem fundamental e a abordagem técnica.

A abordagem fundamental baseia-se, em princípio, na teoria económica e na aferição de valor. Tenta-se identificar situações em que o preço actual diverge do que a teoria sugere que deveria ser. O problema com esta abordagem é que a maior parte dos economistas considera que os mercados financeiros são quase totalmente eficientes, pelo que existem poucas oportunidades para realizar mais valias. É preciso também que se diga que os modelos económicos que hoje existem não conseguem prever o comportamento das taxas de câmbio, quer no curto prazo, quer no médio prazo; daí que muitos economistas digam que são como passeios aleatórios. Ora isto pode ser apenas devido à enorme complexidade do sistema, que envolve variáveis como os stocks de moeda, o produto, as taxas de juro, as taxas de inflação e as expectativas dos agentes económicos sobre como evoluirão todas estas variáveis no futuro. Também não ajuda o facto de tudo se passar tão rapidamente, com notícias minuto a minuto sobre a confiança, sobre indicadores económicos, crises bancárias, primaveras árabes, reuniões do G-7, guerras cambiais, intervenções de bancos centrais, demissões ‘irrevogáveis’, etc. etc.

A abordagem técnica e baseia-se no princípio de que o preço actual já reflecte tudo o que todos os agentes económicos já sabem. Compra-se com base no rumor e vende-se com a saída da notícia. Para quem acredita nesta abordagem, basta olhar para o preço e determinar para onde vai a seguir.

Acredito que os investidores (e traders) bem sucedidos, para além das duas abordagens (que como disse antes são complementares), usam a sua intuição e os seus conhecimentos sobre psicologia de massas, história, geografia, geologia, etc. Como diz Warren Buffett, um dos investidores mais famosos da actualidade, “Se os mercados fossem eficientes, eu estaria falido. E não estou.”.

No fundo, é um grande desafio intelectual. Se toda esta conversa o/a deixou com uma valente dor de cabeça, bem-vindo/a ao clube! Se espicacei a sua curiosidade, então veja este link.

Tente alcançar uma rendibilidade real acima de 1,32% ao ano, que é o que recebe na melhor das hipóteses num depósito a prazo. Mas lembre-se de duas coisas: 1) é arriscado, pelo que não deve usar dinheiro que vai precisar para comprar alimentos ou pagar a renda da casa, e 2) fuja da alavancagem (leverage) que é como TNT. Nunca se endivide para transaccionar moeda estrangeira! 😉

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Sobre Pedro G. Rodrigues

Investigador integrado no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) e Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Doutorado em economia pela Universidade Nova de Lisboa. Email: pedro.g.rodrigues@campus.ul.pt
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