O que sabe a OCDE que nós desconhecemos?

E se eu lhe dissesse que na década de 2030 a economia portuguesa crescerá mais depressa que a economia brasileira e vai atingir taxas de crescimento próximas dos 3% ao ano, acreditaria? Pois é precisamente esta a projecção da OCDE que saiu no Economic Outlook n.º 95 tornado público em Maio deste ano. (Clique nas figuras para aceder aos dados da OECD.)

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Se estas projecções estiverem certas, a retoma que se espera para os próximos dois anos terá uma duração curta, seguir-se-á uma desaceleração suave da actividade económica, e depois a partir de 2022 sensivelmente, Portugal iniciará a sua marcha até atingir um crescimento económico real de quase 3% por ano. Nos últimos anos de um período dourado, i.e. à medida que nos aproximamos de 2035, seremos mesmo a economia que mais depressa cresce no grupo de países que inclui a Espanha, a Alemanha, os Estados Unidos e até (imagine-se!) o Brasil. É caso para perguntar: “O que é que a OCDE sobre a economia portuguesa que nós ainda não sabemos?”.

Como a OCDE não apresenta apenas as projecções de longo prazo para a evolução do PIB, mas disponibiliza também (como é o seu apanágio) a evolução que projecta para as outras variáveis macroeconómicas, vale a pena analisar rapidamente as grandes tendências.

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Em termos do saldo orçamental expresso em percentagem do PIB, devemos atingir o equilíbrio (défice orçamental nulo) por volta de 2017. Com a população portuguesa a envelhecer e antecipando o aumento da despesa pública com pensões, saúde, e cuidados a idosos, a OCDE projecta um saldo orçamental de 6% do PIB. Bem fala o Sr. Presidente da República na necessidade de compromissos alargados e estáveis ao longo do tempo. Será interessante convencer os vários agentes políticos que não há folga orçamental porque temos que poupar para poder pagar a factura do envelhecimento que advém do Estado Social que temos. A própria OCDE projecta para Portugal uma despesa com saúde que pode, no pior cenário, atingir os 13% do PIB, o que colocaria Portugal no 4.º lugar entre os países que mais gastam em saúde em percentagem do PIB, depois da Alemanha, França e dos Estados Unidos.

oecd60-pdHavendo equilíbrio orçamental e depois excedentes orçamentais (défices orçamentais negativos, se quiser pensar assim), o rácio de dívida pública no PIB deverá começar a inverter a sua tendência de subida já em 2016, sendo que descerá rapidamente até aos 60% por volta de 2030.

oecd60-caFinalmente, é interessante também ver o que a OCDE projecta em termos da evolução das contas externas.

Oxalá se concretize este cenário para Portugal. Seria uma boa recompensa pelo esforço de todos os Portugueses.

Mesmo a propósito, antevendo que fará 100 anos em 2060, a OECD acaba de lançar um site dedicado a discutir os desafios da política económica para os próximos 50 anos.

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Sobre Pedro G. Rodrigues

Investigador integrado no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) e Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Doutorado em economia pela Universidade Nova de Lisboa. Email: pedro.g.rodrigues@campus.ul.pt
Esta entrada foi publicada em Crescimento económico, Crise financeira, Dívida, Envelhecimento da população. ligação permanente.

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