Professores deslocados

Será assim tão difícil? Todos os anos por esta altura assistimos ao drama que é ser professor do ensino não superior e estar colocado muitas vezes a centenas de quilómetros de casa, com todo o transtorno e acréscimo de custos que acarreta. São pais longe dos filhos, dos familiares e dos amigos, é a necessidade de alugar quarto, são os transportes (gasóleo, portagens) e os riscos inerentes (por exemplo, a sinistralidade rodoviária).

Um economista observa esta realidade recorrente e pergunta se não haveria uma forma alternativa com melhores resultados para todos. Ok, para quase todos, porque se fosse resolvido o problema, aí os que colocam os quartos para arrendar, assim como a Brisa, as petrolíferas e o próprio Estado (através das receitas de IVA a mais que um professor tem de pagar) provavelmente sairiam a perder. Digo provavelmente, porque não é óbvio. É sempre possível que com os recursos libertados com uma melhor solução os professores gastassem as suas energias e o seu rendimento noutras actividades que pudessem também render algum dinheiro a estes agentes económicos. Já para não falar da qualidade das aulas que seria melhorada com um docente mais fresco e mais motivado. Assim, a tentação de se fazer à estrada numa quinta-feira à tarde é enorme. Em suma, haveria maior disponibilidade por parte do docente.

Mas será assim tão difícil arranjar uma solução alternativa? Esta situação faz-me lembrar algo que li há uns anos e que mostra bem que não devemos subestimar a capacidade do mercado em ajudar a resolver problemas deste tipo. Numa sala de aula, alguém oferece a cada criança um rebuçado, tirado à sorte de um saco grande. O problema é que muitas crianças obtêm o que não querem. As crianças são todas diferentes: umas são alérgicas a amendoim, outras simplesmente preferem chocolate a alcaçuz. Como é que as crianças – deixadas por si próprias (i.e., permitindo que a iniciativa privada opere) –  resolvem este problema? Trocam rebuçados entre elas: para uma troca ser viável, basta que uma tenha o que a outra quer, e vice versa. Aliás, o exemplo funciona para rebuçados como funciona também para cromos.

E para colocações de professores do ensino não superior? Não seria possível ao Ministério da Educação (ou a outro agente da sociedade em que vivemos) montar uma plataforma onde os professores pudessem apresentar a sua colocação para a troca? Afinal, tenho a certeza que deve haver neste momento um professor de educação visual de Vila Franca de Xira que foi colocado em Mirandela que estaria disposto a trocar com um colega com as mesmas competências e que reside mais perto e que foi colocado perto da capital.

Aliás, o que um economista se pergunta mesmo é por que razão o Ministério da Educação não usa um algoritmo inteligente que melhore este emparelhamento.

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Sobre Pedro G. Rodrigues

Investigador integrado no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) e Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Doutorado em economia pela Universidade Nova de Lisboa. Email: pedro.g.rodrigues@campus.ul.pt
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