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Transcript do podcast:
No meu podcast da semana passada disse-vos que achava estranho que, no espaço de pouco mais de um mês, o preço internacional do crude ter caído 15,7% e, no entanto, o preço que pagamos na bomba pelo gasóleo apenas ter caído 3,7%. Haverá boas razões para que o preço que pagamos não acompanhe os preços internacionais? Essa é a pergunta para hoje.
Como todos sabemos, os impostos e a margem de lucro explicam a diferença entre o preço médio de venda ao público e um preço base (que à cotação internacional do crude em euros soma despesas relacionadas com o transporte, descarga e armazém). Sem querer maçar o ouvinte com muitos detalhes técnicos, ao preço base somam-se atualmente 47,1 cêntimos por cada litro, por conta do imposto sobre produtos petrolíferos (o ISP), uma Contribuição de Serviço Rodoviário e ainda um adicional por taxa de carbono. E depois sobre um preço que já inclui impostos é aplicado o IVA. Sim, este é mais um caso de dupla tributação – mas esse é um tema para um outro podcast.
Vale a pena salientar que estes 47,1 cêntimos em cada litro são um imposto específico, i.e., são constantes, independentemente do preço internacional do crude. Feitas algumas contas, isto faz com que o preço médio de venda ao público desça apenas 5% por cada 10% de variação do preço base. Em termos muito práticos, este mecanismo simétrico faz com que na bomba apenas sintamos metade da variação dos preços, quer para baixo, quer para cima.
Mas isto não explica por que razão o PVP que pagamos na bomba só caiu pouco mais de 3%, quando o preço internacional de crude, em euros, já leva uma redução de 29,8% dos 75 euros por barril para 52 euros e 67 cêntimos por barril esta manhã (https://markets.businessinsider.com/commodities/oil-price/euro). A razão pela discrepância nos preços nada tem a ver com os impostos, mas sim com a redução de 12,1% do preço de base. Será verosímil o preço de base apenas cair 12,1%, quando a cotação internacional em euros cai 29,8%? Lembrem-se que o preço de base é a soma da cotação internacional com despesas de transporte, descarga e armazém. Usando a funcionalidade Goal Seek do Excel, é fácil constatar que a única forma de ser verosímil é se estas despesas extra (transporte, descarga e armazém) correspondessem a quase 60% do preço de base, mesmo antes da redução da cotação internacional. Com a redução para os 52 euros e 67 cêntimos por barril, teriam de representar mais de dois terços do preço base.
Conclui-se, assim, que vale a pena investigar qual das duas seguintes situações está na origem de um preço base que é rígido à descida das cotações internacionais. Ou é porque as despesas de transporte, descarga e armazém representam a fatia de leão do preço de base, ou então é porque estas mesmas despesas aumentaram recentemente quando a cotação internacional entrou em forte queda.
Para saber mais, clique aqui, aqui e aqui.
Agradeço ao meu aluno Carlos Fernandes o envio destes links.