Vejo com alguma preocupação a confusão que parece existir entre competitividade e produtividade e o que se pode fazer para aumentar as duas.
Antes de mais, produtividade mede-se como “o valor do que se produz por cada hora trabalhada”. Ora, daqui se conclui imediatamente que dificilmente o aumento de 30 minutos por dia vai servir para aumentar a produtividade, como foi referido em plenário da Assembleia da República há dias pelo deputado do PSD Pedro Pinto.
Por outro lado, competitividade mede-se como “quanto custa produzir uma unidade de um determinado bem”.
Parece também que uma das receitas do FMI para aumentar a nossa competitividade é baixar os salários. Mas será que isso baixaria o quanto custa produzir uma unidade de um determinado bem? Ora vejamos … O custo unitário (ou custo total por unidade produzida, CTUP) é calculado como o rácio entre os custos totais de produção e o número de unidades que são produzidas. Portanto, os custos com o pessoal são apenas uma parte dos custos totais que assim influenciam o numerador deste rácio, enquanto a produtividade (o quanto se produz por cada hora trabalhada) afecta o denominador. Assim se conclui que reduzir salários é apenas uma forma (e talvez não seja a melhor … não é!) para aumentar a competitividade.
A solução então não passa por baixar salários, mas sim por reduzir outros custos que entram nos custos totais (burocracia, custos de contexto, entre outros …) e ao mesmo tempo pensar em formas de sermos mais produtivos, de conseguirmos trabalhar melhor e não mais. Isso passa por coisas tão simples como assegurar um bom planeamento do que há a fazer para que, no dia seguinte, quando o subordinado chega às 9:00 não tenha de esperar até às 11:00, hora à qual o chefe chega, para saber o que vai ter de fazer.
Obviamente que uma das formas mais eficazes de aumentar o produtividade (e por inerência os salários, mas isso vem depois) é através da utilização de mais e melhores máquinas e equipamentos. Isso requer investimento, e sem elas dificilmente alcançaremos a produtividade de países como a Holanda.
Já agora, vale a pena perguntar (e depois responder à pergunta) como é que a Holanda consegue ser mais competitiva que Portugal na produção de determinados bens, mesmo sabendo que os salários (em média) são 3 vezes o que são em Portugal?
É fácil responder a esta pergunta com um exemplo elucidativo: Imaginem dois trabalhadores, um Português que ganha 1000 EUR por mês e um Holandês que ganha 3000 EUR por mês. Ambos trabalham o mesmo número de horas por mês e têm a mesma experiência e a mesma formação. Agora imaginem que são um investidor japonês que tem de decidir onde vai montar uma fábrica: em Portugal onde os salários são baixos, ou na Holanda onde os salários são elevados?
Não é nada óbvio que ele opte por investir em Portugal, simplesmente porque o salário é apenas uma variável e há outras variáveis que também importa. Se o trabalhador Holandês produzir 5000 unidades do bem num mês, enquanto o Português produzir apenas 1000 unidades, o custo unitário na Holanda é de 0,6€ enquanto em Portugal é €1. Afinal, ter um salário mais baixo não garante ser o mais competitivo.
E se baixarmos o salário do Português até aos 600 EUR por mês? Assim, aritmeticamente conseguimos tornar o Português tão competitivo quanto o Holandês (assim o custo unitário fica nos 0.6€), mas a prazo o Português ou deixará de ser tão produtivo (passará a produzir apenas 800 unidades por mês, por exemplo), agravando a competitividade novamente, ou simplesmente emigrará para aproveitar um salário de 3000 EUR por mês. Afinal, ele é tão qualificado e tem a mesma experiência do seu homólogo Holandês.
O nosso problema não é um de salários muito altos. É um problema de produtividade. Não confundamos as coisas …
Completamente de acordo.
Defendo que a baixa de salários pode tornar-nos mais competitivos a curto prazo, mas vai influenciar negativamente a produtividade e o crescimento económico futuro:
1. Os salários baixos são um “subsidio” à incompetência dos empresários: tem menos incentivos a melhorar a gestão das empresas.
2. Com salários baixos os trabalhadores são menos produtivos, menos empenhados….