Nas últimas semanas ouvimos (e bem) o Sr. Presidente da República dizer que o caminho para o equilíbrio das contas públicas não pode ser um fim em si mesmo, mas é uma restrição importante. É um meio, e não um fim em si mesmo.
Neste contexto, parece-me (quase) consensual que o principal objectivo da política económica em Portugal dos próximos anos tem de ser aumentar o ritmo de crescimento do PIB, sendo que só um retomar do processo de convergência real com os nossos pares da União Europeia pode simultaneamente garantir melhores perspectivas quer para o aumento do nível de emprego quer para o combate à desigualdade.
Usando dados da base de dados do World Economic Outlook (FMI), fui investigar a importância do investimento para o crescimento económico mundial. Em linguagem de economistas, “investir” é comprar bens de capital, como máquinas e equipamentos que nos tornam mais produtivos e depois se reflectem em remunerações mais elevadas. Claro que não me refiro apenas ao investimento privado em capital físico, pois para além das instalações fabris e dos equipamentos que lá devem existir, é fundamental investir em infraestruturas, no capital humano (i.e. no saber fazer), e no conhecimento (através da investigação). Assim, conclui-se que o investimento tanto pode ser privado como pode ser público, e refere-se a tudo o que adquirimos com vista a aumentar o potencial de produção do país no futuro.
Para um país, tal como para uma empresa ou um particular, um projecto de investimento financia-se ou a partir da poupança (i.e. a partir dos capitais próprios) ou a crédito (são os agentes económicos do estrangeiro que nos emprestam dinheiro a partir das suas poupanças). O fundamental para o crescimento económico é mesmo o volume de investimento e a sua qualidade. Dado que o financiamento é escasso, apenas os melhores projectos merecem ser concretizados. Desejavelmente, uma parte muito significativa dos recursos financeiros necessários para o investimento deve vir da poupança nacional, mas isso requer um sacrifício na medida em que para se poupar é necessário consumir menos a partir do rendimento disponível. Esta discussão sobre a fonte de financiamento do investimento – se é a partir da poupança nacional ou a partir do crédito (poupança dos estrangeiros) tem tudo a ver com o chamado desequilíbrio das contas externas. A verdade é que um país, tal como um particular ou uma empresa que financia muitos dos seus projectos com dívida fica vulnerável ao que o credor quer. Para além disso, um país que financia boa parte dos seus projectos de investimento com crédito externo efectivamente passa a titularidade dos activos para estrangeiros. Ora isso não influi directamente sobre o ritmo de crescimento económico, mas pode ter consequências a prazo e levanta algumas considerações estratégicas.
Não é por nada que a China, que hoje apresenta dos mais elevados rácios de investimento no PIB de todo o mundo, teima em financiá-los através de uma taxa de poupança nacional que é ainda maior, razão pela qual a China apresenta um excedente das suas contas externas, ou seja é um excesso de poupança nacional sobre o seu investimento nacional que é canalizado para financiar projectos de investimento noutros países, como nos Estados Unidos, transferindo a prazo a titularidade de certos activos dos EUA para mãos Chinesas.
Resumindo, parece-me que a nossa prioridade é crescer. Para tal precisamos de priorizar os melhores projectos de investimento e, se necessário, financiar uma parte destes por crédito externo (parece-me que será inevitável dada a escassez de recursos financeiros em Portugal). Não é de todo uma coincidência que depois de ter sido lançado o Super Crédito Fiscal para o Investimento a economia portuguesa começou a acelerar, mesmo contando com a crise política do verão passado.
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Com os dados do WEO construí o seguinte quadro. O meu objectivo era ver que relação existe entre o peso do investimento no PIB e a taxa de crescimento real da economia. Considero valores médios das décadas de 90 e 00 (juntei os anos mais recentes à década de 00), e fiz uma análise separando as economias emergentes das economias de países avançados.
O que é curioso reparar, correndo uma regressão linear simples para cada bloco, é que existe uma correlação positiva muito bem definida entre estas duas variáveis.
Para as economias emergentes, a um aumento de 1 ponto percentual no peso do investimento no PIB está associada uma aceleração de 0,28 pontos percentuais da taxa de crescimento real do PIB.
Para as economias avançadas, a um aumento de 1 ponto percentual no peso do investimento no PIB está associada uma aceleração de 0,54 pontos percentuais da taxa de crescimento real do PIB.
Tomando estas estimativas pontuais como certas para Portugal, se voltássemos a ter um peso de investimento no PIB igual à média que tivemos para a década de 90, i.e., nos 26,4%, então poderíamos esperar estar a crescer em média a 2,5% ao ano em termos reais. Em 2013, o investimento representava apenas 14,7% do PIB.
Deixo-vos a evolução em Portugal, ano a ano desde 1980, do peso do investimento no PIB e da taxa de crescimento real do produto. Dá que pensar, não dá?